Imagem: girafa no Parque Nacional do Kruger, África do Sul
À luz do
actual conhecimento sobre biologia evolutiva, a resposta é clara. Mas remontemos
ao séc. XIX, altura em que a criação divina e a imutabilidade das espécies
começaram a ser postas em causa para se admitir que estas poderiam ter sofrido
transformações ao longo dos tempos. Dois nomes aparecem intimamente ligados ao
conceito de evolução das espécies, Jean Baptiste de Monet, cavaleiro de
Lamarck, e Charles Darwin (*).
Lamark e
Darwin diferiam muito nas suas explicações sobre o processo evolutivo das
espécies. Por exemplo, Lamark defendia que as espécies poderiam modificar as
suas características ao longo da sua vida e depois transmitir essa alteração à
sua descendência. Darwin, por outro lado, reconheceu a importância da variação
das características que os indivíduos de uma dada população apresentam e
argumentou que essa variação deveria estar relacionada com o meio ambiente onde
essa população se encontrava. Deste modo, um indivíduo que tivesse características
que de alguma forma o beneficiavam seria capaz de se reproduzir mais, passando
essas características à sua descendência. Um processo a que Darwin chamou selecção natural.
Hoje sabemos
que essas características são o resultado de erros de cópia do DNA -a molécula
que contém a informação para a “construção e funcionamento” de cada ser vivo- a
que se dá o nome de mutação. E as mutações acontecem de forma espontânea, a
cada divisão celular; algumas são imediatamente detectadas e ‘corrigidas’ mas
outras escapam a este mecanismo de controlo e passam a fazer parte da
informação genética de um indivíduo. Se uma determinada característica, num
determinado meio ambiente, confere algum tipo de vantagem para a sobrevivência
e reprodução desse indivíduo, ela será alvo do processo de selecção natural. Ou
seja, esse indivíduo tem maior probabilidade de transmitir essa característica
à sua descendência, levando ao aumento do número de indivíduos com essa
característica na população.
Voltando à
pergunta inicial, podemos supor que uma girafa terá nascido com uma mutação que
originou o alongamento do seu pescoço, o que lhe permitiu alimentar-se das
folhas mais altas das árvores. Esta vantagem na alimentação ter-se-á traduzido
numa melhor condição física para sobreviver e para se reproduzir. Logo, a
mutação para o pescoço comprido terá sido transmitida à sua descendência, que
por sua vez, tendo o mesmo tipo de vantagem, a terá também transmitido à sua
descendência. E assim, ao logo das gerações, o número de girafas com o pescoço
comprido aumentou de tal modo que hoje apenas vemos girafas com esta
característica.
(*) Na verdade há um terceiro nome: o
de Alfred Russel Wallace, um naturalista britânico que chegou à mesma conclusão
que Darwin sobre o papel da selecção natural na evolução das espécies. As conclusões a que ambos chegaram foram
comunicadas à Sociedade Lineana de Londres em simultâneo.
[Este texto foi adaptado para responder à pergunta 'Porque é que as girafas têm o pescoço grande?', colocada ao projecto de divulgação de ciência Ciência 2.0. A nova versão pode ser lida aqui.]
[Este texto foi adaptado para responder à pergunta 'Porque é que as girafas têm o pescoço grande?', colocada ao projecto de divulgação de ciência Ciência 2.0. A nova versão pode ser lida aqui.]