domingo, 11 de novembro de 2012

Concepções erradas sobre selecção natural e adaptação #1






CONCEPÇÃO ERRADA: Selecção natural implica que os organismos se tentam adaptar

CORRECÇÃO: A selecção naturala leva à adaptaçãoa das espécies ao longo do tempo mas esse processo não envolve esforços, tentativas ou vontades. A selecção natural resulta naturalmente da variação genéticaa de uma populaçãoa e do facto de alguns desses variantes poderem ser capazes de deixar mais descendentes na geração seguinte do que outros variantes.

Essa variação genética é gerada por mutações aleatóriasa - um processo que não é afectado pelo que os organismos de uma população querem ou o que estão a “tentar” fazer. Ou um indivíduo tem alelosa que são suficientemente bons para a sua sobrevivência e reprodução ou não tem; não pode obter os alelos certos “tentando”.

Por exemplo, as bactérias não evoluem resistências aos nossos antibióticos porque “tentam” muito. Em vez disso, as resistências evoluem porque mutações aleatórias por acaso produzem indivíduos que são mais capazes de sobreviver ao antibiótico e esses indivíduos conseguem reproduzir-se mais que outros, deixando mais bactérias resistentes.

Para saber mais sobre o mecanismo da selecção natural, veja o artigo sobre este tópico [em inglês].

Veja também esta publicação ou esta actividade pedagógica.

Para saber mais sobre mutação aleatória, veja o artigo sobre ADN e mutações [em inglês].

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CONCEPÇÃO ERRADA: A selecção natural dá aos organismos o que eles precisam

CORRECÇÃO: A selecção natural não tem qualquer intenção ou sentido; não pode prever o que uma espécie ou um indivíduo “precisa”.

A selecção actua sobre a variação genética de uma população e esta variação genética é gerada por mutação aleatória - um processo que não é afectado pelo que os organismos de uma população precisam.

Se por acaso uma população tem variação genética que permite que alguns indivíduos sobrevivam a um desafio melhor que outros, ou se reproduzam mais, então esses indivíduos vão ter mais descendentes na geração seguinte e a população vai evoluir. Se essa variação genética não existir na população, a população pode sobreviver na mesma (mas não evolui por selecção natural) ou pode desaparecer. Mas a selecção natural não lhe vai dar o que “precisa”.

Para saber mais sobre o mecanismo da selecção natural, veja o artigo sobre este tópico [em inglês].

Veja também esta publicação ou esta actividade pedagógica.

Para saber mais sobre mutação aleatória, veja o artigo sobre ADN e mutações [em inglês].

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CONCEPÇÃO ERRADA: Os seres humanos não podem ter impactos negativos nos ecossistemas porque as espécies irão evoluir de acordo com o que precisam para sobreviver

CORRECÇÃO: Tal como descrito na concepção errada anterior, ‘A selecção natural dá aos organismos o que eles precisam’, a selecção natural não dá automaticamente aos indivíduos as características que estes “precisam” para sobreviver. Claro que algumas espécies podem ter características que lhes permitem um maior sucesso sob certas condições de alterações ambientais provocadas pelos humanos mas outras poderão não as ter e extinguirem-sea.

Se uma população ou espécie não tiver a variação genética certa, não irá evoluir em resposta às alterações ambientais provocadas pelos humanos, independentemente dessas alterações serem causadas por poluentes, mudanças climáticas, invasões do habitat ou outros factores.

Por exemplo, à medida que as mudanças climáticas fazem com que os glaciares do Oceano Árctico se tornem mais finos e derretam cada vez mais cedo, os ursos polares têm mais dificuldade em obter alimentação. Se as populações de urso polar não tiverem variação genética que permita que alguns indivíduos aproveitem as oportunidades de caça que não dependem dos blocos de gelo oceânico, este animal pode extinguir-se no estado selvagem.

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CONCEPÇÃO ERRADA: A selecção natural actua para beneficiar as espécies

CORRECÇÃO: Quando ouvimos falar sobre altruísmo na natureza (por ex., os golfinhos gastarem energias a tomar conta de um indivíduo doente ou um suricata a avisar outros da aproximação de um predador, ainda que isso coloque o indivíduo que dá o alarme em risco extra) é tentador pensar que esses comportamentos apareceram por selecção natural que favorece a sobrevivência das espécies - que a selecção natural promove comportamentos que são bons para a espécie, como um todo, mesmo que sejam desfavoráveis ou coloquem em risco indivíduos da população. No entanto, esta impressão está incorrecta.

A selecção natural não antecipa nem tem intenções. Simplesmente selecciona indivíduos de uma população, favorecendo características que permitem que os indivíduos sobrevivam e se reproduzam mais, produzindo mais cópias dos genes desses indivíduos na geração seguinte.

De facto, teoricamente uma característica que é vantajosa para o indivíduo (por ex., ser um predador eficiente) pode tornar-se cada vez mais frequente e acabar por conduzir à extinçãoa de toda a população (por ex., se a predação eficiente na verdade fizer com que se extinga toda a população de presas, deixando os predadores sem fonte de alimentação).

Então qual é a explicação que a evolução dá para o altruísmo se este não existe para benefício das espécies?

Esses comportamentos podem evoluir de muitas maneiras. Por exemplo, se as acções altruístas são “pagos” noutras alturas, este tipo de comportamento pode ser favorecido pela selecção natural. De forma similar, se o comportamento altruísta aumentar a sobrevivência e a reprodução de um parente próximo do indivíduo (que são igualmente susceptíveis de ter os mesmos variantes genéticos para o altruísmo), este comportamento pode-se disseminar pela população via selecção natural.

Para saber mais sobre o mecanismo da selecção natural, veja o artigo sobre este tópico [em inglês].

Veja também esta publicação ou esta actividade pedagógica.

Estudantes avançados de biologia evolutiva poderão ter interesse em saber que a selecção actua a diferentes níveis e que, em certas circunstâncias, a selecção ao nível da espécie pode ocorrer. No entanto, é importante lembrar que mesmo neste caso a selecção não tem nenhuma previsão e não está a “apontar” para qualquer resultado; simplesmente favorece as unidades reprodutivas que são melhores a deixar cópias de si na geração seguinte.

Para saber mais sobre os níveis da selecção, veja o artigo sobre este tópico [em inglês]. 


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a Definição no Glossário.  

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