terça-feira, 17 de abril de 2012

A origem híbrida de uma espécie


Legenda da imagem:
Em cima (A): Mapa da distribuição das borboletas estudadas (e de outras do mesmo género) e padrão das asas da borboleta venenosa, B. philenor, para comparação.
Em baixo (B): Resumo das características que mostram diferenciação ecológica e morfológica nas duas borboletas “pais” (glaucus e canadensis) e mistura na nova espécie (appalachiensis).



Na Natureza, por vezes 1+1 pode ser igual a 3!


De um modo simples, uma espécie forma-se a partir da separação de um grupo de indivíduos: o que até esse momento era uma população homogénea, divide-se em dois conjuntos de indivíduos que apenas se cruzam entre si e não com indivíduos do outro grupo. Com o passar do tempo, os dois grupos acumulam diferenças genéticas de forma independente e passam a ser considerados duas espécies.

Mas e se indivíduos dos dois grupos se encontrassem e conseguissem ter descendentes férteis? Neste caso, poderia originar-se uma terceira espécie, formada pela mistura genética das espécies parentais. Este fenómeno, designado de ‘especiação híbrida’, é relativamente comum em plantas (um dos exemplos mais estudados é o girassol) mas muito raro em animais; e ainda mais quando consideramos os vertebrados. Um dos poucos exemplos conhecidos refere-se a uma espécie de borboleta do género Papilio e que habita as montanhas Apalache, na América do Norte.

Num artigo recente, publicado na revista PLoS Genetics, um grupo de investigadores de quatro universidades norte-americanas demonstra a origem híbrida da borboleta Papilio appalachiensis. O aparecimento desta borboleta está provavelmente ligado às alterações climáticas que ocorreram durante o Pleistoceno e o seu genoma actual mostra a contribuição em proporções semelhantes das borboletas Papilio glaucus e Papilio canadensis. Ainda mais extraordinário é o facto de essa contribuição ter criado uma combinação de características que permitiu à nova espécie ocupar um espaço ecológico muito particular: as zonas altas da montanha, onde também habita uma espécie de borboleta venenosa, Battus philenor. Especificamente, as P. appalachiensis terão herdado de P. glaucos o mimetismo (limitado às fêmeas, que exibem um padrão de asas idêntico ao da borboleta venenosa) e de P. canadensis a capacidade de viver nas zonas altas, onde as temperaturas são mais baixas.

Embora a hibridação, ou a reprodução entre indivíduos de espécies diferente, esteja descrita em várias espécies, os descendente são habitualmente inférteis ou com menor capacidade de adaptação e reprodução que os seus pais. O que este trabalho vem demonstrar é que não só os descendentes das duas borboletas “pais” (glaucus e canadensis) são férteis como apresentam uma maior capacidade de se adaptar a um novo ambiente. Citando os autores, a borboleta P. appalachiensis é um “raro exemplo genético do papel criativo da hibridação na evolução”.

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