Legenda da
imagem:
Em cima (A):
Mapa da distribuição das borboletas estudadas (e de outras do mesmo género) e
padrão das asas da borboleta venenosa, B.
philenor, para comparação.
Em baixo
(B): Resumo das características que mostram diferenciação ecológica e
morfológica nas duas borboletas “pais” (glaucus
e canadensis) e mistura na nova
espécie (appalachiensis).
Adaptada de Krushnamegh et al., 2011.
Na Natureza, por vezes 1+1 pode ser igual a 3!
De um modo
simples, uma espécie forma-se a partir da separação de um grupo de indivíduos:
o que até esse momento era uma população homogénea, divide-se em dois conjuntos de
indivíduos que apenas se cruzam entre si e não com indivíduos do outro grupo.
Com o passar do tempo, os dois grupos acumulam diferenças genéticas de forma
independente e passam a ser considerados duas espécies.
Mas e se
indivíduos dos dois grupos se encontrassem e conseguissem ter descendentes férteis?
Neste caso, poderia originar-se uma terceira espécie, formada pela mistura
genética das espécies parentais. Este fenómeno, designado de ‘especiação
híbrida’, é relativamente comum em plantas (um dos exemplos mais estudados é o girassol) mas muito raro em animais;
e ainda mais quando consideramos os vertebrados. Um dos poucos exemplos conhecidos
refere-se a uma espécie de borboleta do género Papilio e que habita as montanhas Apalache, na América do Norte.
Num artigo recente, publicado na revista PLoS Genetics, um grupo de investigadores de
quatro universidades norte-americanas demonstra a origem híbrida da borboleta Papilio appalachiensis. O aparecimento
desta borboleta está provavelmente ligado às alterações climáticas que
ocorreram durante o Pleistoceno e o seu genoma actual mostra a contribuição em
proporções semelhantes das borboletas Papilio
glaucus e Papilio canadensis. Ainda
mais extraordinário é o facto de essa contribuição ter criado uma combinação de
características que permitiu à nova espécie ocupar um espaço ecológico muito
particular: as zonas altas da montanha, onde também habita uma espécie de
borboleta venenosa, Battus philenor. Especificamente,
as P. appalachiensis terão herdado de
P. glaucos o mimetismo (limitado às
fêmeas, que exibem um padrão de asas idêntico ao da borboleta venenosa) e de P. canadensis a capacidade de viver nas
zonas altas, onde as temperaturas são mais baixas.
Embora a
hibridação, ou a reprodução entre indivíduos de espécies diferente, esteja
descrita em várias espécies, os descendente são habitualmente inférteis ou com
menor capacidade de adaptação e reprodução que os seus pais. O que este
trabalho vem demonstrar é que não só os descendentes das duas borboletas “pais”
(glaucus e canadensis) são férteis como apresentam uma maior capacidade de se
adaptar a um novo ambiente. Citando os autores, a borboleta P. appalachiensis é um “raro exemplo
genético do papel criativo da hibridação na evolução”.
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