Em 1871, Charles Darwin, no seu livro “A Descendência do
Homem e Selecção em Relação ao Sexo”, apresenta pela primeira vez a hipótese de
um ancestral comum entre humanos e restantes primatas (onde se incluem as
diferentes espécies de macacos, como o chimpanzé). Darwin fez uma análise
exaustiva das características dos humanos e comparou-as com as de outros seres
vivos, chegando à conclusão que também o Homem moderno é o resultado de um
longo processo evolutivo. Desde então, muitos outros cientistas se dedicaram ao
estuda da evolução humana, recolhendo evidências que demonstram que as
características físicas, funcionais e comportamentais partilhadas por todos os
humanos se originaram a partir de um antepassado comum com os actuais grandes
símios (chimpanzé, gorila e orangotango). Este ancestral comum seria muito
diferente dos actuais macacos, que também foram evoluindo e, tal como os
humanos, alterando as suas características ao longo do tempo.
As evidências que permitem reconstituir a história da origem
do Homem dividem-se fundamentalmente em dados genéticos e fósseis e arqueológicos.
Comparações entre sequências genéticas de humanos e chimpanzés mostram poucas
diferenças entre ambos e permitiram estimar o tempo que decorreu desde que
humanos e chimpanzés partilharam um ancestral comum: 5 a 7 milhões de anos. Várias
descobertas de fósseis com esta idade aproximada e identificados como
pertencentes à linhagem do Homem corroboram os resultados obtidos com os dados
genéticos.
Ao longo da história evolutiva dos humanos podemos registar
várias etapas importantes. Por exemplo, pensa-se que o bipedismo, a capacidade
de se locomover sobre os dois pés, surgiu há cerca de 5,2 milhões de anos. Assim
o demonstram os fósseis de Ardipithecus ramidus kadabba.
Na árvore evolutiva dos humanos encontram-se também várias espécies de
hominídeos que se foram extinguindo, como o Homo
ablilis ou o Homo erectus. A
maior parte dos fósseis destas espécies, assim como fósseis de linhagens mais
antigas, morfologicamente mais semelhantes aos chimpanzés, encontra-se em
África, que é por esse motivo considerada o berço da humanidade. O estudo da
variação genética entre as populações humanas actuais confirma esta hipótese.
As primeiras migrações para fora de África, feitas por indivíduos da espécie Homo erectus, ter-se-ão realizado há
cerca de 2 milhões de anos; os primeiros humanos terão chegado primeiro à Ásia
e depois, há cerca de 1,5 milhões de anos, chegaram à Europa.
O Homem moderno pertence à espécie Homo sapiens e terá surgido em África há cerca de 300 mil anos. Os achados fósseis e arqueológicos atribuem às formas arcaicas de Homo sapiens algumas características como o manejo de instrumentos e a realização de cerimónias fúnebres. Estes ancestrais das populações modernas seriam provavelmente capazes de comunicar usando a linguagem e de produzir arte. Há cerca de 150 mil anos, alguns indivíduos terão migrado pela primeira vez para fora de África; em pouco tempo, estas populações colonizaram toda a Ásia e Europa, o que terá acontecido há cerca de 60 mil anos. A colonização do continente americano e da Austrália ter-se-á dado há cerca de 30 mil anos.
Entre 150 e 30 mil anos atrás, uma outra espécie de hominídeo
terá também existido, designada Homo
neanderthalensis ou Neandertal, mas provavelmente a competição com
indivíduos da nossa espécie, Homo sapiens,
terá levado à sua extinção. Resultados recentes sugerem que durante a sua
co-existência indivíduos das duas espécies se tenham reproduzido e que muitos
europeus modernos transportem ainda nos seus genes informações que herdaram dos
Neandertais.
Desde que se estabeleceram nas diferentes regiões do globo, cada
população humana terá tido a sua própria história de adaptação aos diferentes
ambientes, e que está marcada na grande diversidade que reconhecemos entre nós,
da morfologia à genética.
Referências/mais
informações:
. Jobling MA, Hurles ME,
Tyler-Smith C (2004) Human Evolutionary Genetics - Origins, Peoples and
Disease. Garland Science, Nova Iorque (EUA)
. Darwin C (2009 [1871]) A origem do Homem e a selecção em relação
ao sexo. Relógio d’Água,
Lisboa, Portugal
. Reich D et al. (2010) Genetic history of an archaic hominin group
from Denisova Cave in Siberia. Nature, 468: 1053-1060
. New Scientist
[este texto também pode ser lido no site do projecto de comunicação de ciência Ciência 2.0]
[este texto também pode ser lido no site do projecto de comunicação de ciência Ciência 2.0]
Sem comentários:
Enviar um comentário